segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Cuide bem do seu amor, seja ele quem for." - Kéfera Buchmann

Mais uma madrugada, ali estava ela com a cabeça entre os joelhos, sentada no chão encostada na cama com sua xícara de café. Os milhares de papéis, cartas, fotos e passagens de avião que faziam com que Susan pensasse cada vez mais em quem ela deveria esquecer. Conheceu Dave quando ainda acreditava que príncipes encantados existiam. As verdades sobre os adultérios cometidos por ele vieram à tona apenas depois do rompimento da relação. "O tempo tomará conta do que você sente, e a dor que está em seu peito irá passar, somente o tempo cicatrizará a ferida que agora está aberta", era o que o pai de Susan dizia a ela. Mas era inútil, qualquer conselho é inútil para quem ama.
- Burra. - Ela balbuciava para si mesma enquanto bebericava seu café que estava praticamente gelado.
O fato dela amar alguém que nunca de fato a respeitou, fazia com que ela sentisse nojo e raiva de si mesma, como se ela fosse culpada e como se pudesse mandar em seu coração. Ela sabia que estava sofrendo pelo cara errado. De um jeito ou de outro ela precisava e queria falar com Dave. Insistir no erro, talvez. Ter a segunda, a terceira ou a quarta chance, quantas fossem ncessárias até que ela conseguisse fazer as coisas voltarem ao "normal". O número de lágrimas que escorriam por suas buchechas aumentavam a medida que o ponteiro do relógio fazia os segundos passarem.
Esbarrou a mão trêmula na xícara de café que estava apoiada no chão, derrubando-a por cima da última carta que ele escrevera. Ela deixou o líquido escuro levar embora todas as falsas palavras que estavam ali escritas. O líquido consumiu praticamente toda a folha, deixando apenas o "Eu te amo", que ele escreveu no rodapé da página. Susan alcançou a chícara e a trouxe até a boca, fez força para controlar o choro e tentou parar de soluçar. Inútil. Ela chorava como se tentasse extrair o amor que lhe sobrara no peito através de suas lágrimas. Levantou-se e foi até o telefone. Discou o número de Dave mas antes mesmo de chamar, ela desligou. Seu peito vibrava com a idéia de ouvir a voz do amado, suas pernas ficavam bambas e as lágrimas eram impossíveis de de serem controladas. Um peso enorme em seus ombros tomou conta de Susan, e sua visão escureceu.
(...)
- O que é isso tudo? - Perguntou Susan a si mesma ao acordar meio tonta em uma cama de hospital enquanto tocava a agulha que injetava soro em sua veia.
- A quanto tempo você está sem comer, Susan? - Perguntou a enfermeira que já se tornara amiga de Susan devido suas inúmeras internações.
- Que diferença isso faz?
- Você sabe muito bem que não pode ficar sem se alimentar, é perigoso. Você deveria estar lutando contra a sua doença. Por quê você está se entregando?
Os cantos da boca de Susan curvaram-se para cima na tentativa de um sorriso.
- Você já conheceu alguém que morreu de amores? - Perguntou a garota com os olhos cheios, ainda tocando a agulha que lhe injetava soro.
- Que bobagem! Susan, eu sei que está sendo difícil para você, mas calma, o tempo...
- O tempo irá cicatrizar a ferida que está aberta em meu peito? Há, essa é velha, ouço isso do meu pai todos os dias!
- Parece clichê, mas Susan, uma hora... Uma hora passa.
- E se eu não quiser que passe?
- Bom, aí a opção de continuar sofrendo será toda sua. - A enfermeira segurou firme na mão de Susan. - Você realmente quer desistir de tudo por alguém que já não se importa mais com você?
As mãos de Susan começaram a tremer novamente, e algumas lágrimas rolaram pelo seu rosto. "Alguém que já não se importa mais com você". A frase permaneceu na mente de Susan por dias.
Dias e mais dias de um desespero imenso em seu peito, até seu último suspiro.
(...)
- AONDE ELA ESTÁ? - Entrou Dave no hopistal gritando, lágrimas percorriam seu rosto.
- Shhhh, Dave, acalme-se, você não pode gritar aqui.
- Por favor, aonde ela está? - Perguntou ele chacoalhando a enfermeira amiga de Susan.
Já era tarde demais, naquela quinta-feira chuvosa e fria, no quarto 402, Susan havia finalmente deixado Dave para sempre.
- Uma das últimas coisas que ela pediu antes de morrer, foi que eu lhe entregasse isso caso você viesse algum dia procurar saber sobre ela. - A enfermeira estendeu um envelope a Dave.
Não havia muita coisa escrita, Susan resumiu em apenas algumas linhas todo o seu sofrimento.
"Dave, logo depois que terminamos, descobri que estava com câncer nos pulmões. Já era tarde demais e o tumor já havia se tornado maligno. Quero que saiba que a última pessoa em quem pensei antes de respirar pela última vez, foi você. Desejei ter você de volta para mim durante meses, mas você sumiu, você já não se importava mais. Não consegui seguir em frente, não tive força o suficiente para lutar contra a doença. A cada dia que eu acordava e você não estava ao meu lado, era como se eu ainda estivesse dormindo, tendo um pesadelo. Obrigada por todo o tempo que passamos juntos e por todas as risadas que demos, por todos os sorrisos, abraços e beijos. Eu tentei conversar com você antes, mas você não quis me ouvir. Eu te amo Dave, pra sempre."
O papel deslizou pelas mãos de Dave, ele estava pálido e enquanto se aproximava da maca onde Susan estava deitada, um filme passava pela sua cabeça. Susan achou que Dave já não se importava mais com ela, quando no fundo, durante o tempo todo ele também a tinha dentro de seu coração. Todo o amor que ele guardou para depois, desperdiçado. Ele trocou a mulher que amava por festas, diversões e por outras mulheres. Guardou seu amor tão bem guardado, que quando finalmente estava prestes a usá-lo novamente, já era tarde demais. Seus dedos percorreram os dedos gelados de Susan, e afundado em lágrimas ele deu o último beijo, o último beijo.
- Eu te amo, pra sempre. - Repetiu Dave as últimas palavras da carta que Susan escrevera.

Kéfera Buchmann

Recado:
Esta foi a participação especial da Kéfera Buchmann com o seu conto no meu blog, espero que tenham gostado, o crédito é totalmente dela!

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2 comentários:

  1. A Kéeh escreve super bem, e está de parabéns, gostei mesmo. Contribuição maravilhosa para o blog, que já ótimo. Valeu Kéeh por dividir seu talento

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  2. Fico muito foda! Boa idéia ae Vini, parabens! :D

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